- PRINCÍPIO GERAL
“Ressignificar a Vida”
Ressignificar a vida passa por uma alimentação de qualidade. Mas não se restringe a ela. É algo muito mais complexo. Envolve valores, também espirituais. A valorização suprema de valores ligados ao individualismo, à competição, ao consumismo, impedem a qualidade de vida, a manifestação da vida. A semente, símbolo de vida de todos os povos, está sendo confiscada pela lógica econômica.
A ressignificação da vida, no plano apenas individual, além de profundamente limitada, em geral, tem significado um isolacionismo que não problematiza estruturas geradoras da não vida. Assim, este coletivo, inicialmente de forma pontual, tendo como foco uma alimentação mais saudável, tem como princípio fundante a ressignificação da vida, somente possível noâmbito de valores distintos dos atualmente predominantes, sendo o horizonte, em termos de organização social, um outro modelo socioeconômico, um outro mundo possível.
- VALORES:
1.1.1. SOLIDARIEDADE
Nesse momento histórico, no qual as utopias foram desacreditadas, mas insistem em reaparecer, a relação entre as pessoas, progressivamente, está sendo mediada pela competição. Buscamos exercitar a solidariedade. Solidariedade, cooperação em oposição ao individualismo. Solidariedade que implica em, por exemplo:
– Por parte dos co-produtores(as), dando suporte e apoio (não só financeiro) para contribuir para a qualidade de vida dos produtores(as);
– Por parte dos produtores(as), além do fornecimento de alimentos saudáveis (orgânicos), propiciar (juntamente com os co-produtores(as)) espaços de troca de experiências, de aprendizagem, de vivência comunitária;
– Socializar os “bônus” e os “ônus”. Por exemplo, por vários motivos, haverá perdas de safras. Nesse caso, a não disponibilidade de produtos deverá ser assumida coletivamente. Também a solidariedade deve ser fundante na socialização dos produtos, por vezes aquém do planejado, entre os co-produtores(as).
1.1.2. CONFIANÇA
Na lógica capitalista, de forma cada vez mais acentuada, a relação entre as pessoas, pautada pela competição, dá-se segundo dois mecanismos principais: De um lado, a assinatura de contratos, de assinaturas reconhecidas em cartórios. De outro, na ausência desses mecanismos que “dão credibilidade”, sempre que possível,“passar a perna” no outro. Os orgânicos, vistos como uma oportunidade econômica pelo mercado, estão submetidos a essa lógica: somente confiamos neles se tiverem o selo de orgânico. No nosso coletivo, queremos ir além da superação, da eliminação de intermediários, papel assumido por transnacionais como a rede Walmart, queremos pautar o relacionamento por novos valores, sendo a confiança algo central. Assim, a certificação solidária será uma construção no coletivo. Contudo, não é um dado a priori.
- DIGNIDADE
Trabalho digno para todos os envolvidos no processo. Particularmente quando há a necessidade, por parte dosprodutores(as), de contratar funcionários (a contratação de funcionários deverá ser abolida no decorrer do processo. Todos deverão ser produtores(as)).
1.2. AÇÕES A SEREM EXECUTADAS
1.2.1. Reuniões sistemáticas entre produtores(as) e co-produtores(as): Planejamento coletivo;
1.2.2. Na fase inicial do processo, apoio financeiro a agricultores orgânicos já estabelecidos;
- Resgate de culturas, de saberes populares vinculados a práticas agrícolas/alimentares;
- Diálogo/socialização entre práticas agrícolas/alimentares, potencializando o surgimento de novos produtores(as) orgânicos;
- Produção e socialização de produtos orgânicos;
- Realização de almoços comunitários periódicos;
- Realização de atividades para as crianças (Resgate e socialização de “brincadeiras tradicionais”)
1.3. HORIZONTES
1.3.1. Ampliação quantitativa e qualitativa de produtores(as) e co-produtores(as) orgânicos, fomentando o surgimento de novos coletivos;
1.3.2. Processo vivenciado, no coletivo, fornecendo subsídios para a elaboração de Políticas Públicas para práticas alimentares/agrícolas;
1.3.3. “Sementes livres”: sementes gerando vida, não acumulação de capital;
1.3.4. Potencializar um novo modelo agrícola, pautado pela agricultura orgânica/ agroecológica/biodinâmica;
1.3.5. Outra sociedade, outro mundo possível, marcado pelos valores solidariedade, cooperação, confiança, dignidade, pela vida comunitária.
- DIMENSÕES CONCEITUAIS/PRÁTICAS FUNDANTES DO PROCESSO
CO-PRODUTORES(AS)
- Ganham boa qualidade– tem acesso a um alimento fresco, variado e diversificado. Podem escolher em grupo quais as variedades (crioulas, antigas, por exemplo) o que confere aos alimentos “aquele sabor que este tinha quando eu era criança”. Os alimentos tem caráter, são a imagem e levam a energia de quem os produziu. A sazonalidade do plantio e colheita fazem com que o sabor e o aroma se intensifiquem, pois alimentos cultivados fora de sua época ideal, se degeneram nestes quesitos. Tem a possibilidade de poder optar por uma alimentação orgânica, ecológica ou biodinâmica.
- Ganham transparência- todo o processo de cultivo, desde a seleção das variedades, cultivares e espécies até a época de colheita (mais maduros ou mais jovens e tenros) é decidido em conjunto. Sabem onde e quem os cultivou e quais os métodos empregados neste processo, podendo interferir ativamente em aprimoramentos ou mudanças neste cenário. Tem acesso a planilha de orçamento e custo de toda a produção de seu alimento e sabem dos investimentos necessários para melhorias no processo de produção.
- Estimulam a produção local- constroem um processo junto com produtores(as). Isto diminui o custo com transporte (quase que totalmente realizado com combustível fóssil), com embalagens, com armazenamento e marketing.
- Tem acesso a uma experiência social- tem a possibilidade de participar e estimular a construção de um novo método de agricultura que pode servir de modelo para novas iniciativas neste sentido. Tem acesso ao conhecimento sobre técnicas agrícolas de plantio e produção de alimentos ecológicos e sobre o cuidado com a terra e a natureza. Além disso, participam, juntamente com seus filhos, de uma comunidade de pessoas que pensam em novas maneiras de viver, em qualificar a vida.
PRODUTORES(AS)
- Ganham planejamento- com a produção programada há a possibilidade de um planejamento concreto baseado em números reais de metas de produção o que possibilita uma maior racionalização dos recursos materiais e humanos dentro da propriedade rural. Este planejamento dá o apoio de uma comunidade/sociedade comprometida na manutenção da atividade rural agroecológica e preservação do organismo agrícola.
- Dividem os riscos- adquirem parceiros (co-produtores(as)) na produção que dividem os riscos que a agricultura trás consigo.
- Recursos financeiros certos- ganham uma entrada financeira concreta e periódica e com isso a possibilidade de se dedicar integralmente a uma agricultura sustentável e saudável que preserva os recursos naturais.
- Unidade experimental de agricultura agroecológica- a propriedade tem a possibilidade de testar novos métodos, sementes, materiais e manejos, muitas vezes não possível para um mercado convencional que sempre quer um produto padronizado globalmente. Além disso podem colocar em prática a manutenção e incremento da boa fertilidade do solo, dos direitos e bem estar animais, do uso de sementes crioulas e variedades tradicionais.
- Unidade de produção comunitária- os agricultores ganham novos amigos e parceiros para o trabalho que valorizam sua atividade e que o motivam diariamente a produzir com qualidade e dignidade.
- Motivação- melhora a qualidade de vida do produtor possibilitando, por exemplo, o planejamento de viagens, tempo livre e de férias.
PROPRIEDADE
- Alterações do mercado- a propriedade fica mais estável as alterações do mercado global, não sofrendo impactos na sua estrutura produtiva, tipos de culturas e criações e predisposição de aproveitamento agrícola.
- Aproveitamento total da produção- não há sobras após a comercialização, pois o planejamento reduz os excessos produtivos e as flutuações de venda devida a lei de oferta e procura. Além disso, quando há sobras, os co-produtores(as) entendem e discutem qual será o destino destes produtos.
- Aumento da biodiversidade- o organismo agrícola tem sua biodiversidade aumentada e potencializada devido ao uso de várias variedades e conservação de raças tradicionais de animais. O incentivo à produção agroecológica também protege e estimula o aumento da flora e fauna silvestres locais.
REGIÃO
- Mudança ambiental- pode-se transformar através da biodiversidade e da produção agroecológica um local degradado para outro com alta qualidade de vida. Implantação de corredores florestais e santuários ecológicos da fauna e flora local além da preservação de mananciais de água e rios.
- Exemplo- estimula a outras iniciativas locais através da participação em encontros, discussões e educação a adoção do sistema e com isso o crescimento da biodiversidade regional.
- Escultura social- a região experimenta um impulso econômico, viável e conservacionista ambiental que pode mudar o pensamento de toda uma população regional.
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